A Palavra que Ficou Ecoando
Recentemente, numa conversa com uma leitora querida (vocês sabem como valorizo nossos encontros), ela comentou sobre sentir-se inspirada pela "rapidez" com que a Eleva estava nascendo desde que comecei a escrever esta newsletter há 10 meses. Essa palavra "rapidez" ficou ecoando em mim, porque eu sei que a semente da Eleva foi plantada há 8 anos - e não quero que vocês tenham a impressão de que essa construção foi feita do dia para a noite.
A primeira vez que a idéia da Eleva surgiu na minha mente foi quando fui desafiada como parte do processo seletivo do Bank of America Merrill Lynch a fazer um business plan sobre como eu pretendia me tornar uma assessora de planejamento financeiro e investimentos usando a estrutura do banco. Era 2017, e eu mal sabia que aquela apresentação corporativa se tornaria o embrião de algo muito maior.
A Construção Invisível
Depois de anos trabalhando para o banco e me envolvendo com a comunidade brasileira de Phoenix, sendo voluntária em organizações que fomentam a cultura e conexão entre brasileiros, foi que a Eleva foi ganhando forma na minha cabeça, eu vi o poder das comunidades. Em paralelo, eu buscava também uma saída para meus problemas mais urgentes: a maternidade no exterior sem rede de apoio, os altos e baixos do casamento, a descoberta de uma nova condição de saúde. Por esse caminho me deparei com muitas pessoas que me ajudaram a olhar para todos os desafios de uma forma diferente daquela que eu havia aprendido em casa, verdadeiras experts não só por terem conhecimento mas por terem tido experiência real com tudo aquilo que eu estava vivendo.
Durante esses oitos anos, a minha vontade de criar algo que fosse único e baseado na minha jornada passou por estações de dormência, períodos de rega silenciosa, momentos de poda, crises de fé e mudanças de direção. O que parece "rápido" para quem observa carrega anos de preparo invisível, tentativas frustradas, recomeços que ninguém documenta no Instagram.
Essa percepção me confrontou com uma verdade: confundimos velocidade de execução com profundidade de preparo. O mundo celebra o lançamento, mas ignora os anos de gestação - e isso pode nos fazer sentir inadequadas por "demorar tanto" para tirar nossos projetos do papel.
Contra a Performance a Qualquer Custo
Quero deixar bem claro: sou contra a cultura da performance a qualquer custo, pois acredito que ela nos cega para a qualidade do processo e nos fez focar obsessivamente no "dia do grande resultado". Não quero viver numa corrida invisível onde o que importa é chegar primeiro, ser a melhor, produzir mais. Isso gera uma ansiedade coletiva porque estamos constantemente vibrando nas energias baixas da sobrevivência.
Valorizar apenas a velocidade visível nos faz esquecer que o que parece "rápido" pode ter raízes invisíveis que ninguém consegue ver. Mas também não vou cair na armadilha oposta: romantizar a lentidão como se ela fosse sempre sabedoria profunda.
O Tempo Real das Sementes
Quando falo de sementes, dos ciclos da natureza e dos nossos ciclos, não quero romantizar a dureza do nosso dia a dia - o ter que pagar contas e lidar com todos os problemas que a vida nos apresenta diariamente. Eu já plantei muitas sementes erradas, em lugares errados, que nunca se tornaram viáveis. A Eleva, por exemplo, era um projeto dormente no meu coração não porque "ainda estava se formando", mas porque eu tinha medo de começar e não conseguir continuar, e me sentir fracassada perante os olhos de terceiros.
Às vezes o que chamamos de "tempo da semente" é procrastinação disfarçada de sabedoria. Às vezes é perfeccionismo mascarado de processo natural. E às vezes - apenas às vezes - é realmente o timing necessário para algo nascer forte.
A diferença está na honestidade brutal sobre nossas motivações reais.
O aprendizado da Eleva
A Eleva me ensinou que o que parece "rápido" para o mundo pode carregar anos de preparo - mas também que nem todo preparo longo resulta em algo valioso. Algumas sementes precisam de 8 anos para germinar; outras apodrecem no solo por falta de ação ou excesso de medo.
A sabedoria não está em aceitar passivamente o "tempo natural" de tudo, mas em discernir quando persistir e quando soltar, quando acelerar e quando desacelerar. E principalmente: quando parar de usar metáforas para evitar decisões práticas que precisamos tomar.
Uma Pergunta Direta
Que sementes você está cultivando que realmente merecem seus cuidados? E quais você está mantendo por nostalgia, medo ou falta de coragem para admitir que já não fazem sentido?
Não tenho respostas prontas - tenho curiosidade sobre como vocês navegam entre paciência necessária e procrastinação disfarçada. Entre dar tempo para as coisas amadurecerem e usar esse tempo como desculpa para não agir.
A Eleva nasce no segundo semestre de 2025 carregando 8 anos de história, mas também nasce sabendo que nem tudo que demora muito para nascer é necessariamente profundo - às vezes é só medo de mostrar nossas imperfeições ao mundo.
Com carinho e menos romantismo,
Babi
A honestidade com que você fala de suas experiências e processo de construção é importante e inspiradora, Babi. Lembro bem do nosso primeiro encontro e de como admirei o que chamo de seu "trabalho de formiguinha" convocando pessoas (de uma a uma) para se conhecerem e se apoiarem aqui em Phoenix.
Chamo de "trabalho de formiguinha" porque ele pode parecer pequeno, mas é a sua consistência e foco que levam a resultados e construções duradouras.